Ginásio Municipal Conrado Ernani Bento
recebeu nesta terça-feira (23) mais uma
etapa do Torneio de Integração Escolar de Canguçu, a modalidade do dia foi o
Handebol e movimentou diversas escolas da zona urbana de Canguçu, hora de
mostrar os resultados do trabalhos desenvolvidos pelos professores de educação física,
o fruto deste trabalho são os vários atletas destaques durante a competição, o
handebol prossegue sua evolução no meio escolar, o Torneio Escolar de Integração é organizado pela SAecretaria Municipal de Educação e Esportes. Confira uma matéria especial
sobre o esporte no meio escolar:
Quando falamos em pedagogia do handebol pensamos em um contexto de
aprendizado que ocorre em diversos locais como escola, escolinha de esportes,
clubes, equipes de base. Porém, destes lugares o que mais atrai alunos que não
conhecem a modalidade e que podem vir a ser ou não praticantes devido a
experiência com este esporte é a escola.
Ela (a escola) hoje é um dos principais locais onde as crianças praticam
esportes, seja no horário regular das aulas ou em equipes para torneios
escolares. Neste aspecto um detalhe passa despercebido: Como o handebol está
sendo ensinado dentro da educação física escolar?
O aluno de ensino regular (seja qual nível for)
está na escola para receber toda a instrução para sua experiência motora e
prática corporal que ele possa agregar. Na verdade podemos pensar no esporte
inserido nas práticas escolares como fonte pedagógica, mas para isso o handebol
caracteriza-se como um jogo, sem pautar-se no rendimento esportivo.
Bracht entende que o esporte na escola só tem sentido quando entendido como
atividade escolar e integrado ao projeto pedagógico desta escola. Assim, o
esporte e o handebol na escola devem servir para a formação do indivíduo como
um todo, tratando aspectos físicos, cognitivos, psicológicos, afetivos,
sociais, críticos, o tornando um cidadão pensante e atuante sobre a sociedade e
a cultura a qual está vinculado.
Dessa forma, o handebol passa a ser uma ferramenta para que o aluno tenha
dentro da sua prática vivências e experiências que proporcionem a ele um
aprendizado múltiplo. Mas para isso o professor deve saber adequar o
Esporte/Jogo a realidade da escola, e reformular os objetivos de quem os
executa.
Os ideais de vencer ou perder presentes no esporte competitivo devem estar
longe dos principais objetivos destes alunos. Ensinar os esportes coletivos na
escola visando a aprendizagem do jogo é uma maneira de proporcionar a todos os
alunos a sua prática de forma prazerosa e não excludente. Todos poderão
aprender, mesmo aqueles que não se tornarão atletas. Estes que optarem ou não
conseguirem seguir a carreira de atleta poderão ter conhecimentos específicos
para que se tornem praticantes e espectadores pensantes e críticos. Não somente
sob o aspecto da saúde como alguns autores defendem, mas também pelo aspecto do
saber fazer, saber transmitir o conhecimento e adquiri-lo sempre.
Exercícios analíticos de passe, recepção, empunhadura, drible, arremesso,
trifásico, não proporcionam a estes alunos a crítica sobre o esporte, o agir
pensante. Porém, a ideia pautada nos jogos coletivos, quando bem orientada
pelos professores podem vir a ser de grande estímulo para que estes alunos além
da tática, da estratégia do jogo aliada a técnica, também associem a
compreensão do coletivo, do grupo.
Um assunto discutido por nossos colegas em seus textos recentes são, por que
os alunos não praticam o handebol fora da escola? Desta pergunta levanto outras
questões: Como estamos transmitindo o handebol aos nossos alunos? Estamos
ensinando aos nossos alunos que todo lugar é lugar para jogar handebol? A
“pelada” que vemos nos campos de várzea acontecendo frequentemente não tem
muito a ver com o futebol jogado pelas seleções, a semelhança restringe-se a
ter que fazer gol e a bola nos pés, então porque o handebol tem que ser igual
ao do rendimento? Porque não pode simplesmente ser um jogo de bola nas mãos com
gol? Isso só será possível a partir do momento que o aluno souber diferenciar o
handebol que ele sabe jogar ao executar o jogo, e não quando se exercita com
simples execução de fundamentos, como passe, drible, recepção.
Assim as diferentes visões metodológicas para o processo de ensino-aprendizagem
de cada professor estão ligadas a ideia sobre qual o melhor caminho para o
ensino-aprendizagem do aluno. Pensando na construção crítica que o esporte pode
oferecer aos alunos dentro da escola, como seria a metodologia do professor?
Na visão crítico emancipatória as ideias são pautadas na superação do aluno
através do esporte, ou seja, o esporte é colocado para fins educacionais e não
como a base da pirâmide do rendimento esportivo. O aluno irá adquirir a base
para a sua autonomia, o esporte dará ao indivíduo uma condição transformadora,
pois cada um aprende e transcende sobre o seu próprio conhecimento. A
capacidade comunicativa deve ser desenvolvida e o movimento é a primeira
expressão comunicativa, com contexto histórico, social. A referência não está
no esporte da mídia e sim na prática vivenciada por cada indivíduo ou pelo
grupo.
Neste aspecto a figura do professor como orientador e mediador dessas
relações dentro do grupo são de extrema importância. De acordo com a concepção
aberta de ensino, proposta por Hildebrant (autor alemão que tem a realidade da
educação física intimamente ligada ao conteúdo esportivo) os principais
objetivos são focados para a autonomia, a capacidade de comunicação, a
criatividade e responsabilidade dos alunos e, de acordo com o autor, somente
serão autônomos se a educação promover situações para isso. As aulas estão
sempre dentro de um determinado objetivo momentâneo a ser alcançado pelos
alunos, que em nosso caso pode ser estratégias ou táticas do handebol, ou problemas
que surgem e que serão solucionados a partir de jogos coletivos, porém a ação
pedagógica é cotidianamente encaminhada para os itens mencionados acima.
Assim, o ganhar dentro do esporte na escola é relativo ao aprendizado, e o
perder deve estar relacionado com a inércia sobre o conhecimento, não com
índices técnicos ou resultados formais de jogos, este conteúdo é para equipes
profissionais, não para crianças, por isso a necessidade de adaptar torneios de
acordo com o conteúdo ensinado a cada grupo, em que o handebol seja jogado sem
a expectativa da competição convencional, e os objetivos possam ser alcançados
de acordo com a possibilidade de “rendimento” dos alunos.
Devemos lembrar que para que o handebol seja um instrumento de nossas aulas
os alunos devem ter prazer em jogar handebol. O prazer do jogo deve ser mantido
e não corrompido pela prática, pelos preceitos do rendimento esportivo.
Enquanto professores nosso objetivo é propiciar formas para os praticantes que
gostam do esporte, mas que não são “pequenos atletas”.
Ensinar todos os conteúdos do handebol e assim expandi-lo para fora dos
muros da escola. “Portanto, o que a pedagogia crítica em EF propôs/propõe é
o ensino de destrezas motoras esportivas dotadas de novos sentidos,
subordinadas a novos objetivos/fins, a serem construídos junto com um novo
sentido para o próprio esporte” (Valter Bracht).
Bibliografia:
Hildebrandt, Reiner;
Laging, Ralf. Concepções abertas no ensino da Educação Física. Rio
de Janeiro. Ao livro Técnico, 1986.
Kunz, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte
. Ijui : Unijui, 1994.
Bracht, Valter. Esporte na escola e esporte de rendimento.
Movimento – Ano VI – Nº 12 – 2000/1
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