Trabalho com esporte, no meio do futebol feminino, há 16 anos
e ao assistir nesta quinta-feira a Seleção Brasileira perder a decisão da medalha de ouro no PAN de
Guadalajara, para o Canadá solidifiquei minha convicção de que precisamos
implementar mudanças estruturais, conceituais no trabalho desenvolvido, para a que a modalidade se desenvolva de
maneira organizada, para que se solidifique, conquistando de vez seu espaço.
Cresce o número de praticantes em todo país e cada vez mais
em idade precoce, assim como a participação e interesse das mulheres pelo
“esporte bretão”, de um modo geral. Isto é facilmente constatado nas
arquibancadas dos estádios, nos bares com transmissões de jogos, sem falar na
mídia especializada, na arbitragem e também em campos e quadras. Cai assim mais um dos últimos redutos
machistas.
Mas ainda há focos de resistência nos clubes e federações,
pouco caso de outras autoridades esportivas e desinteresse da grande mídia
(salvo situações pontuais, como por exemplo, uma final ou conquista de
determinada competição ou a atleta Marta sendo eleita mais uma vez a melhor do
mundo pela FIFA) e de patrocinadores.
Mas não podemos transferir responsabilidades e achar que a
culpa é somente de uma sociedade ainda conservadora, patriarcal e machista e de
dirigentes tradicionais(muitos ultrapassados em suas convicções) que resistem
em abrir espaço para uma modalidade que “não dá lucro” e a qual eles não
entendem,não dominam, não possuem “know-how”.
Os interessados e as interessadas
que buscam ser valorizados pelo que fazem devem fazer a sua parte.
Precisamos organizar,
como já existe hoje no RS(AGFF),Associações/ Ligas Estaduais de Clubes
de Futebol Feminino, com pessoas qualificadas, conhecedoras do assunto e
compromissadas com a causa. A partir disto, formar uma Liga ou Associação
Nacional, que trataria de questões como organizar um calendário nacional
unificado, do futsal e do futebol, prevendo períodos de convocações das
Seleções Brasileira – Adulta, sub20 e sub17.
Buscando ao máximo definir períodos de disputa para estes, diminuindo conflitos
de datas e por conseqüência, de interesses entre atletas, clubes e CBF.
Criar um banco de dados sobre competições, clubes, técnicos e
dirigentes que hoje comandam o futebol feminino de norte a sul do
país(pesquisa).
Fomentar cursos, em parceria com CONFEF e Sindicato dos
Técnicos de Futebol, visando qualificação das comissões técnicas dos clubes.
Cursos também para dirigentes, alinhando pensamentos e procedimentos para
tornar os ambientes das atletas mais focados no objetivo fim – jogar futebol.
E no que diz respeito às atletas, virar a página. Renovar. A
partir das Seleções Nacionais, que são a referência.
Mudar o comando, mudar comissões técnicas? Sim, se preciso.
Mudar atletas? Sim, quantas forem se fizer necessário.
Algumas já não apresentam a menor possibilidade de crescerem, evoluírem física,
técnica ou taticamente e por seu comportamento, não são bons referenciais para
as mais jovens.
Há a necessidade de alinhar procedimentos, critérios,
conceitos de convocação e de controle da parte disciplinar das atletas evitando
a formação de subgrupos que saem do foco principal. Que com seu comportamento
inadequado desrespeitam os ambientes de trabalho, comprometem a imagem do
grupo, do produto “futebol feminino” e em alguns casos tornando o ambiente
pesado, pouco sadio, com situações de constrangimento para atletas, principalmente
mais jovens. Passando uma imagem errada e reforçando estereótipos,tabus.
Não há porque e tão pouco o direito de se discutir questões de opção
sexual,mas respeito se conquista,não se impõe e não podemos fazer de um esporte
um nicho comportamental, até mesmo pelo crescimento do número de praticantes e
da diversidade do mesmo.
Em qualquer ambiente de grupo há necessidades de regras de
organização e comportamento, limites, respeito a todos envolvidos e o futebol
feminino carece disto, vindo de baixo para cima, com a conscientização e de
cima para baixo com medidas eficientes.
Pelotas, 28 de outubro de 2011.
Marcos Planela Barbosa
Técnico de Futebol
CREF 010809-P/RS
Reg. Sindicato dos Treinadores Profissionais do RS – 005/PEL
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