Fabiana Alcântara (D) é uma das pessoas que carregam
consigo o orgulho de ensinar Foto: Luiz Armando Vaz /
Agencia RBS
Está no dicionário: professor é aquele que professa ou ensina uma ciência,
uma arte, uma técnica, uma disciplina; mestre. Assim, hoje, mesmo que a
profissão não tenha mais o respeito e o status que teve no passado, a palavra
professor ainda é usada como sinônimo de respeito e de sabedoria. É usada como
apelido para pessoas de destaque ou quando queremos dizer que alguém é mestre
naquilo que faz. É comum ouvirmos jogadores chamando o técnico de "professor".
Nesta data especial, como homenagem aos mestres, o Diário Gaúcho apresenta
quatro histórias de pessoas que sabem - e adoram - ensinar, embora nem todos
estejam engajados no ensino tradicional.
Se o ofício garante que Fabiana Schmitt Alcântara, 43 anos, seja chamada de
professora, é o seu conhecimento e a forma como ela o transmite que lhe
asseguram o título de Professora, com P maiúsculo. Para ela, não basta assumir
uma sala de aula. É preciso evoluir com os alunos, conectar-se a eles, tocá-los
de forma mais profunda.
Ela leciona Matemática há 23 anos, sendo 17 deles onde estudou: a Escola
Estadual de Ensino Médio Almirante Barroso, na Ilha da Pintada, bairro em que
nasceu e vive até hoje. Essa proximidade permite que os laços ultrapassem os
muros do colégio e ganhem as ruas do local, que imita hábitos de uma cidade
pequena.
- Aqui ainda tem isso, esse respeito ao professor. É como uma grande família
- conta Fabiana, que cresceu acompanhando a mãe e a tia professoras.
Contribuir nas trajetórias
A paixão pelos números logo se somou à paixão de ensinar. Com tamanho
sentimento, era impossível que o resultado fosse diferente: satisfação com o
trabalho realizado.
- Quando tu dá uma aula boa, tu chega feliz em casa. Gosto muito do que eu
faço - define.
A vontade de inovar levou Fabiana a criar um blog, onde divulga os conteúdos
e acrescenta atividades para os alunos. Também mantém contato com eles pelas
redes sociais. A tarefa exige uma dedicação extra, além das 50 horas semanais em
sala de aula, mas ela não se cansa:
- Os alunos mudaram e a gente precisa acompanhar essa evolução.
Os frutos desse empenho aparecem no dia a dia e com o tempo. Ela recebe
mensagens de alunos que hoje são engenheiros, advogados, professores e reconhece
a sua participação em cada uma dessas trajetórias. Uma gratificação que nenhuma
das dificuldades enfrentadas no cotidiano consegue apagar:
- É tão legal quando tu vê os olhinhos deles brilhando, que tu conseguiu
chegar no teu aluno. Eu acredito que é por meio da educação que a gente
transforma o futuro.
Aulas no campo de futebol
Ele é professor e também é chapa - de meu chapa (amigo, camarada) -, bordão
das décadas de 60 e 70. Nascido em Santa Maria, no mesmo ano em que Pelé e John
Lennon, Otacílio Gonçalves da Silva Júnior, 72 anos, também brilhou no meio que
escolheu para viver.
Chapinha saiu das quadras de concreto para ser reverenciado nos campos de
futebol. Treinou clubes no Brasil, Paraguai, Japão, Arábia Saudita e Kuwait. No
Estado, comandou Inter e Grêmio e foi campeão nos dois.
Formado em Educação Física pela Ufrgs, o professor Otacílio começou a ser
chamado assim desde 1969, quando assumiu o cargo de preparador físico do Juvenil
do Colorado.
Consequência natural da profissão
Para ele, a expressão era uma consequência natural da sua profissão, mas
também uma reverência e um sinal de respeito.
- A gente acostuma, vira um hábito das pessoas. Hoje, todo mundo é chamado de
professor: o preparador físico, o técnico e até o árbitro - brinca.
Um mestre do jornalismo esportivo
O jornalista Ruy Carlos Ostermann, 78 anos, migrou ainda jovem do
quadro-negro para o microfone e logo ganhou as páginas dos jornais. Formado em
Filosofia, Ruy foi professor da disciplina no colégio Israelita Brasileiro e no
colégio João XXIII e de Psicologia da Educação na Ufrgs. Desde então, passou a
ser chamado de Professor, uma deferência.
Se para os alunos, o mestre era visto como alguém que detinha o conhecimento,
espécie de farol na escuridão, para ouvintes e leitores, o aprendizado é
absorvido semanalmente em seus comentários e colunas.
Homem de texto fluente e frases de construção elaborada, Ruy virou referência
de qualidade. Uma grife do jornalismo esportivo brasileiro. No rádio, na
televisão e, principalmente, no jornal, Ruy continua fazendo o que sempre fez,
desde os tempos em que lecionava: tratar a inteligência com todo o respeito.
- A palavra tem duas acepções: uma é a do sujeito que leciona, o que fiz com
muita dedicação. A outra é a que atribui a pessoa um saber, um tipo de
conhecimento especial. Criou-se uma dualidade que acabou sendo resolvida desse
jeito. É um reconhecimento, tendo em vista que ele acaba ensinando os outros. É
boa e abrangente, determina um elogio, um agradecimento.
Formando músicos e cidadãos
A função que José Augusto Pereira da Silva, 35 anos, desempenha na escola de
samba Estado Maior da Restinga por si só faz com que ele seja chamado de mestre.
Mas Mestre Guto, como todos os conhecem, não se limita a dirigir os 230
ritmistas da entidade. Ele também capacita novos componentes para a bateria e
contribui para a formação de cidadãos.
Com ouvido apurado, Guto aprendeu a tocar observando ritmistas
experientes.
- Quando criança, minha avó me levava na escola de samba. Em casa, eu pegava
uma lata de leite em pó e saia pela rua batendo, imitando o repinique -
relembra.
Guto ingressou na bateria da Restinga e, com o tempo, foi conquistando seu
espaço. De ritmista foi a diretor e, posteriormente, a mestre.
Ele passou a dirigir oficinas oferecidas pela escola de samba e, também, pelo
Centro de Promoção da Infância e Juventude João Calábria. Atende a crianças e
jovens de sete a 14 anos de idade em situação de vulnerabilidade social.
- Eu converso muito com as crianças. Hoje, graças a Deus, posso passar os
meus conhecimentos, tirá-las das ruas e levá-las para o samba. É gratificante -
comemora.
Só com notas boas na escola
Mas Guto tem suas exigências: é preciso tirar notas boas na escola para
continuar o aprendizado na música.
- Digo a elas (crianças): se tiver que ser músico, que leve a sério, se tiver
que ter qualquer outra profissão, que também leve a sério. É o que eu mais
procuro passar a elas.
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